Ninguém fica feliz quando está doente; mas a meditação pode nos ajudar a ser mais conscientes sobre o que acontece e, principalmente, sobre a natureza impermanente das doenças.

Esses dias fiquei doente e estava fora do Brasil. Era um lugar bonito, mas isolado, sem médicos, farmácias ou hospitais. À noite, com febre e mal-estar, pensei que poderia meditar não para ficar bom, mas para ficar consciente sobre o que estava acontecendo.
Em situações assim, é fácil entrarmos em um estado de ansiedade e julgamento - tendo que lidar com todas as responsabilidades do trabalho e estudo enquanto se está doente e nos culpando por não conseguir trabalhar ou estudar; ou cair em um estado de indulgência ou auto-piedade, onde nos colocamos como vítimas.
Pode parecer estranho querer meditar nessas horas, mas toda a lógica da meditação mindfulness é para reconhecer o que está acontecendo com você e ao seu redor no momento, para o bem ou para o mal. Ela também te ajuda a lembrar que isso mudará; nada é para sempre e mesmo a doença vai passar.
Assim, quando estiver doente, você pode meditar para perceber o seu estado mental, tentando manter uma sensação de paciência e bondade para com você mesmo. Que tal tentar algo assim:


Comece a meditação, respirando profundamente, uma ou duas vezes. Concentre-se nos movimentos sutis que acompanham a respiração; seu tórax se expandindo, sua barriga movimentando-se. Se for difícil ou dolorido respirar pela sua condição atual, concentre-se em algo diferente da respiração, como, por exemplo, seus pés tocando no chão ou na parte de trás das pernas no colchão. Continue a respirar naturalmente por alguns minutos ou concentrando-se nas sensações do corpo.
A seguir, observe onde sente desconforto no corpo. À medida que fizer isso, preste atenção nessa experiência com cada vez menos resistência, raiva ou julgamento (por julgamento, me refiro a pensamentos como "não podia estar assim", "por que isso acontece comigo", etc). Sem fingir que não está doente, apenas entenda e observe o que você está sentindo. Se há uma sensação de aperto ou desconforto, veja se consegue aliviar a tensão pouco a pouco com cada expiração.
Pense em como você cuidaria de uma pessoa na mesma situação. Muitas vezes, quando estamos ao lado de pessoas doentes, resumimos nossos desejos a elas com frases específicas como “Vai ficar tudo bem", “Vai passar", “Estou aqui". Sem forçar qualquer tipo específico de comportamento, concentre-se nesses desejos a cada respiração e para si mesmo. Sempre que perder a atenção, volte para essas frases ou, se preferir, foque novamente na sua respiração; sempre observe as sensações em seu corpo.
Deixe de se esforçar para consertar qualquer coisa por um momento e mantenha-se consciente sobre sua doença e desejo de alívio. Repita essa técnica sempre que achar necessário, por 10-20 minutos.