Como usar a meditação para aliviar sua dor de cabeça

Outro dia estava fora do Brasil, num quarto de hotel, com muita dor de cabeça e sem remédios disponíveis. A dor era tão intensa que não tinha nem disposição para procurar uma farmácia por perto e comprar algo que aliviasse essa sensação tão incômoda. Minha solução foi meditar e, acreditem, sempre funciona.

Mas como assim, Rafael? Você medita e a dor de cabeça vai embora?

Bom, mais ou menos; também não é um milagre. Mas minha experiência e pesquisas recentes mostram que a meditação pode, sim, ajudar no controle e redução de dores crônicas, não apenas dor de cabeça. Meditantes experientes podem chegar a reduzir a dor em até 90%! E não é mágica, não!

Acontece que, como explicam os neurocientistas, sua dor de cabeça (e outras dores em geral) é formada por dois componentes, com causas bem diferentes. O primeiro deles é a dor física, primária. Essa dor, normalmente, está associada à uma enfermidade, lesão ou dano causado ao corpo ou sistema nervoso. O segundo componente é secundário e é a reação da sua mente ao componente 1; ou seja, sua mente não sente a dor somente, ela também processa a informação associada à essa dor, amplificando sua sensação.

É como se fosse o volume da dor, sendo aumentado ou diminuído pela mente. Isso acontece pois nosso cérebro - que é um grande caçador de padrões - busca situações, memórias, traumas, eventos relacionados à dor na tentativa de encontrar um padrão e assim solucionar o problema com algo já conhecido e de forma rápida. Mas no caso da dor, esse processo tem um efeito colateral: como ela normalmente não está associada a uma experiência positiva (pode acontecer, claro!), a mente traz à tona situações - sobretudo memórias - e ocasiões em que você sofreu algo parecido no passado. E isso, normalmente, não é legal!

Então, antes mesmo que você se dê conta, sua mente já está inundada por memórias dolorosas e sentimentos negativos. Isso pode até lhe trazer a sensação de que você vive com dor de cabeça, de que não há solução para isso. Nesse momento, você acaba sendo consumido por estresse, ansiedade e preocupações do tipo: e se essa dor não passar? E se piorar? Será que nunca vou me livrar desse problema? Tudo isso cria um círculo de pensamentos que pode aumentar ainda mais a sua dor.

Veja que essa dor secundária é real, apesar de ser gerada pela interpretação que sua mente faz da dor física; ela realmente funciona como um amplificador da dor. Mas aí também está a solução!

Uma vez que a dor secundária não tem causa física, mas sim mental, é possível ter controle sobre ela e é aí que entra a meditação. Ela nos ajuda a reconhecer a dor, ficar mais conscientes de sua forma, localização, intensidade… e separar a dor primária da secundária. Em outras palavras, a meditação nos propicia uma perspectiva diferente sobre a dor o que acaba nos ajudando a diminuir o volume do seu amplificador.

Em casos de dor de cabeça, sempre faço uma meditação como essa abaixo, você pode tentar também em sua casa ou aonde estiver:

Essa meditação é uma técnica de reconhecimento corporal (body scan) e visualização. A idéia é manter a concentração em cada parte da cabeça (se a dor for em outras partes do corpo, faça o mesmo com essas partes) e, assim, ir percebendo melhor a dor. Reconhecimento corporal Sente-se ou deite-se em um lugar confortável ou mesmo no chão. Deixe suas pernas levemente afastadas uma da outra. Braços ao lado do corpo ou com as mãos gentilmente apoiando-se em sua barriga. Feche os olhos e relaxe. Deixe seu corpo solto e relaxado; respire profundamente algumas vezes. Agora foque em sua respiração. Observe como ela está - é rápida ou lenta? Profunda ou curta? Tente não interferir nisso, apenas observe. Se sua mente viajar nesse momento (como o É o Tchan, fez sucesso afinal?), tudo bem; é normal. Apenas volte a se concentrar na respiração. Se quiser, conte até 10, inspirando 1… expirando 2. Repita isso duas ou três vezes. Agora vá para onde está sua dor. Tente perceber aonde dói; nas têmporas? Na testa? Acima da cabeça? Atrás? Tente ser preciso e identificar exatamente aonde dói. Não se esqueça da respiração, continue focado - se sua mente se distrair (Por que o Neymar cai tanto nos jogos?), volte para a respiração e para a investigação da dor. Veja se a dor é mais forte ou mais fraca do que você sentia. Visualização Nessa técnica vamos abstrair um pouco, mas a lógica é a mesma: focar em um objeto de meditação. A brincadeira é assim: uma vez que você tenha identificado o ponto focal da dor (se ela for difusa, tudo bem, concentre-se na cabeça inteira), vamos imaginar uma bola bem vermelha exatamente nesse local. Ela representa sua dor. Continue visualizando essa bola vermelha, sem perder a noção sobre a intensidade e localização da dor, nem esquecer da respiração. Parece complicado, mas não é! Quando você fizer, vai ser bem mais simples, acredite. Agora, vamos, aos poucos e sem pressa, transformar essa bola vermelha em uma bola branca. Vá aos poucos, concentrando-se nessa bola e região de sua cabeça e deixando que a bola não seja mais vermelha. Primeiro, ela deve ficar de uma cor vermelha menos viva, mais pálida, depois vai ficando rosa, mais clara... mais clara ainda. Isso pode ser rápido ou devagar, depende da pessoa, da dor, da situação, da concentração… mas a idéia é que você se permita, no seu ritmo, mudar a cor da bola de vermelha para branca em um exercício de visualização. Então, em algum momento, a bola vai ficar branca e ocupar toda sua cabeça como se fosse uma luz bem clara. Nesse momento, respire fundo algumas vezes, abra os olhos e volte devagar ao mundo real rs… você perceberá que sua dor de cabeça melhorou. Pode ter apenas diminuído, é claro - vai diminuir muito ou pouco, mas vai mudar de algum jeito. Se ainda te incomoda, você pode esperar um tempo e fazer tudo novamente, mais devagar. E claro, sempre é possível tomar um analgésico!