Em nossa mente há emoções que “tocam" mais que outras. Já parou para refletir qual é a sua playlist emocional?

À medida que vamos nos acostumando com a prática da meditação mindfulness - observação curiosa do que está acontecendo no momento, sem julgamentos - é comum ficarmos mais atentos aos nossos pensamentos e às nossas emoções. Pode até acontecer algo que soa paradoxal, mas não é: já ouvi relatos de pessoas que começaram a meditar para aliviar o estresse e, de repente, começaram a se sentir impacientes, ansiosas, preocupadas. Parece estranho, mas isso acontece com frequência. Por quê?
Na verdade, boa parte das pessoas já é ansiosa, raivosa, impaciente, mas não se dá conta disso. Quando começam a prestar atenção nas emoções, elas apenas tornam-se conscientes desse fato. Então, é pouco provável que alguém fique mais ansioso, por exemplo, com a meditação; é bem mais provável que ela perceba o quão ansiosa é à medida que se dedica à prática. Tal percepção é uma coisa boa, por mais incômoda que pareça.
Ao longo da nossa jornada como meditantes, começamos a nos relacionar de forma diferente com nossos pensamentos e sentimentos. Em muitos casos, você vai perceber que determinadas emoções se repetem com muito mais frequência que outras, como músicas na sua playlist favorita. No meu caso, essas emoções se manifestam como impaciência e ansiedade. Aliás, é bem mais fácil percebê-las se você se perguntar “Como estou me sentindo?". Na minha playlist emocional, os hits “impaciente" e “ansioso" sempre aparecem. Podem aflorar outros sentimentos: tédio, euforia, medo, alegria… mas essas duas “faixas" são as que tocam mais.
Quando você identifica essa playlist, é importante perceber como essas emoções se relacionam com seu corpo. Quando sinto medo, por exemplo, sinto uma pressão na boca do estômago. Quando estou impaciente, percebo que transpiro mais ou fico agitado. Esse exercício de associação do corpo com a mente é parte fundamental da meditação. Além disso, você pode ter uma noção mais clara do que está sentindo, antes mesmo de refletir conscientemente sobre isso, apenas ao observar suas sensações.
Com tempo e prática, você verá que ao longo da meditação formal, vamos nos aprofundando no relacionamento com as emoções. É como se você pensasse “Ok, estou triste; mas numa escala de 0-10, quão triste estou?". Esse nível de investigação que te permite enxergar tons de tristeza, por exemplo, é bem-vindo, porque você consegue ter a dimensão da sua emoção e esse conhecimento mais refinado sobre o que está sentindo te ajudará muito na decisão sobre o que fazer a respeito disso.
Especialmente diante de emoções negativas, costumamos ter duas reações: fugimos da emoção, fingindo que não a sentimos; ou nos afundamos em meio a ela, entrando em uma espiral negativa. Identificar sua playlist emocional e se relacionar de forma curiosa com seus sentimentos pode te dar o balanço necessário para tomar atitudes intermediárias e, no fundo, ser mais consciente sobre suas escolhas.