A rápida ascensão da COVID-19 à uma pandemia, com o espalhamento do novo coronavírus, nos colocou em uma situação para muitos antes impensada: em casa, de quarentena e tendo que enfrentar uma nova rotina com familiares, amigos e, principalmente, nós mesmos.

Para alguns, estar a sós consigo mesmo é o maior desafio. Temos uma vida tão atarefada e sempre cheia de compromissos profissionais e sociais que, raramente, nos damos o luxo de estar quietos com nós mesmos. Muitas vezes, isso acontece porque sofremos de diferentes graus do FOMO (termo em inglês para "fear of missing out" ou medo de ficar por fora, em tradução livre do meditante aqui). Esse medo nos leva correndo às redes sociais, à TV, aos amigos porque não queremos ter a sensação (ou encarar a realidade?) de que estamos sozinhos, por fora do que está acontecendo.

Essa reclusão forçada, no entanto, pode ser um ótimo momento de reflexão. Momento para cuidar de você e relaxar, momento para cuidar da casa, plantas, animais. Momento para pensar sobre sua vida, suas escolhas, seus comportamentos. Uma postura meditativa, nessa hora é muito bem-vinda! Meditar nos ajuda a enxergar as coisas com mais clareza, a acalmar a ansiedade, a ter mais compaixão com o próximo.

Mas não se engane: ficar sozinho com você e se autoexaminar por ser difícil e até dolorido. Ao longo desses primeiros dias de quarentena, sentei-me para meditar e fui tomado por diferentes emoções, principalmente ansiedade. Às vezes essas emoções são tão fortes que fica difícil continuar. Prefiro fazer outra coisa como ler um livro, cozinhar, ver um filme ou trabalhar ao invés de enfrentar a emoção. Aliás, tem muita coisa para se fazer quando estamos sozinhos. Não precisamos de companhia o tempo todo! Quem sabe você perceba isso mais claramente agora e… até goste disso.

Agora, vejam que experimentar emoções é uma parte normal da meditação. A brincadeira aqui é reconhecer o fato de que dor ou medo, ansiedade ou raiva ou qualquer outra emoção surgindo são verdadeiras naquele momento, mas passam. É difícil, mas muito importante prestar atenção nessas emoções e colocar nelas a nossa consciência.

Quando falamos com um terapeuta ou amigo/a de confiança, experimentamos um efeito curativo porque - como diria Freud - colocar nossa atenção no que nos magoa é exatamente a maneira pela qual ativamos o processo de resolução dessa mágoa. Da mesma forma, na meditação, nossa própria mente, agindo sem julgamento, mas com consciência, encontra aquela emoção forte e oferece a ela segurança para, potencialmente, se resolver. Às vezes, ao experimentar emoções fortes durante a meditação, simplesmente dizer palavras de encorajamento como "Está tudo bem" e "Isso vai passar" já ajudam muito. Se emoções fortes e difíceis surgirem durante sua prática de meditação, fique tranquilo pois não há nada de errado. Ao contrário, é um sinal de que você está fazendo tudo certo!

Ah, Rafael, isso parece coisa de autoauja. Sim! Isso é, literalmente, autoajuda. Vale à pena se liberar dos seus preconceitos e experimentar esse carinho de vez em quanto.

Aqui no Blog do Cientista Zen já postei algumas técnicas de meditação que podem ajudar você a lidar com emoções. Falei disso no post sobre Qual sua playlist emocional?, PARE… e esteja pronto ou como meditar quando você está doente. Se você não viu, não deixe de conferir.

No mais, aproveite os momentos em que não estiver trabalhando durante sua quarentena para meditar, refletir, aumentar sua compaixão com os outros e se conhecer. Raramente temos essa oportunidade. Fique em casa, seguro e consciente. Tudo isso vai passar!